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sexta-feira, 24 de junho de 2011

Artigo de Cacá Diegues sobre o filme Estamos Juntos publicado no Estado SP dia 22.06.11


UM CLOSE NO GRANDE AMOR A SÃO PAULO

Fazer um filme sobre a cidade que se ama é uma declaração de amor aos outros, àqueles que gostaríamos que desfrutassem de virtudes e até defeitos daquilo que amamos.

Em “Rio”, de Carlos Saldanha, canta-se a graça do que já é e a daquilo que poderia ser. Nos filmes de Woody Allen sobre Nova York, aquilo que já foi e não se consegue mais reter, a não ser na generosidade da memória e da imaginação (serão uma coisa só?). A Nouvelle Vague viveu às custas de Paris durante muito tempo, como se a cidade-luz fosse uma mulher de aluguel. E assim sucessivamente.

No caso de “Estamos Juntos”, filme brasileiro de Toni Venturi, em cartaz em todo o país, São Paulo é o objeto desse amor, um amor agitado que atravessa a geografia da cidade e suas classes sociais, com uma vontade de amar sempre conturbada pelo pânico.

Essa cidade-síntese do Brasil de hoje e de ontem, a coisa mais atual que já floresceu entre nós e que, no entanto, chegou ao futuro sem resolver seu passado. Como nós todos.

“Estamos Juntos” trata desse amor com um olhar no close e outro no plano geral, como aprendemos a montar com o cinema italiano do pós-guerra (não estivéssemos em São Paulo!). Não existe a cidade sem seus habitantes, mas esses habitantes não têm valor apenas por seu papel social dentro dela. Eles são antes de tudo personagens, como na tradição de “Latitude Zero” e “Cabra Cega”, coisa rara no cinema político que pretende nos salvar da miséria e da opressão de classe.

Esses personagens ganham vida a partir de seu lugar na cidade, como aparentes vítimas dela. Mas evoluem no filme como agentes do drama que ela vive, em consonância com seus atos e desejos pessoais.

O que se prepara como desastre inevitável, fatal apocalipse, revela-se finalmente celebração da vida como ela é, com todos os seus impasses, diante dos quais não é sábio apenas se lamentar, nem se deve desistir.

A direção de atores de Toni Venturi é responsável pela credibilidade de algumas situações difíceis de serem absorvidas. Há algo de muito semelhante ao conceito geral do filme no modo com que ele transforma estrelas da televisão em intérpretes sem estereótipos, capazes de gerar sentimentos com seus sentimentos. E sobretudo com suas fraquezas.

Sou um alagoano que escolheu o Rio de Janeiro para viver sua vida. Mas cada vez que chego em São Paulo, sinto um estranho orgulho daquela cidade, daquele aglomerado humano, daquele monumento urbano e de sua representação para nós. Tenho vontade de sair dizendo: “olha o que somos capazes de inventar”.

Essa atração não elimina minha compreensão das dificuldades e das dores, gerando o amor que sinto novamente, agora diante de um filme que, até no título, faz uma bela e justa síntese poética de sua natureza – “Estamos Juntos”.

Carlos Diegues - cineasta

Serviço:

Em cartaz em diversas cidades do Brasil e em São Paulo:

Shopping Frei Caneca - Arteplex
Sala 6  - 16h00 * 20h00

Cinemark Shopping D
Sala 9  - 22h20

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