SINAPSE ONLINE 23/07/2002 - 03h00
Aprendi a conviver com as diversidades
da Folha de S.Paulo -Aureliano BiancarelliQuando me perguntam o que aprendi no Vocacional, digo que aprendi a ler jornal, a comer com faca e garfo, a me seduzir pela realidade, a trabalhar em grupo, a me enxugar no meio das pernas depois do banho.
Reprodução ![]() A carteirinha do Vocacional de Americana pertencente ao repórter Aureliano Biancarelli |
É uma maneira de dizer que no Vocacional aprendi a olhar o mundo e a lidar com ele, das suas questões políticas e comunitárias aos cuidados com o corpo. O colégio que fiz em seguida pouco me acrescentou. E a universidade, mesmo com o sobrenome USP, se limitou a ponto de discussões.
Só tomei consciência da importância do Vocacional à medida que fui me distanciando dele. Éramos meninos e meninas que passavam o dia todo na escola, em classes e equipes, em que conviviam filhos de empresários e de operários. Fui da primeira turma do Vocacional de Americana, entre 1962 e 1965, quando a cidade era conhecida como "Princesa Tecelã".
Os grupos de estudo nas classes eram montados pelo voto direto, o mais votado ocupava o posto de líder, e tanto o grupo como a liderança mudavam em cada disciplina. O Hiltinho, que odiava matemática e não ia bem em português, era o líder em educação física, porque ninguém jogava melhor que ele.
Foi a melhor escola de respeito às habilidades, às limitações e às dificuldades do outro. Não tínhamos consciência ainda, mas estávamos aprendendo a conviver com as diferenças e as diversidades e valorizá-las .
Tínhamos economia doméstica, práticas industriais, artes plásticas, música, práticas agrícolas, votávamos no "governo estudantil" e tínhamos talão de cheque do "banco do estudante". No 7 de Setembro, o Vocacional foi a primeira escola a ter um desfile no qual meninos e meninas desfilavam lado a lado.
O estudo do quarto ano, em 1965, seria na Argentina, e dormiríamos em barracas do Exército. A viagem nunca aconteceu. (Aureliano Biancarelli)
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